sábado, 13 de março de 2010

O Moinho do Diabo

Há duas ou três semanas, Ana, uma jovem brasileira, perguntava-me se eu conhecia a história do “Moinho do Diabo”.
Não conhecia, fiquei curiosíssima, e graças à Internet, acabei por descobrir a história incluída num trabalho da Professora Salma Ferraz da Universidade Federal de Santa Catarina no Brasil. Segui quase integralmente o texto publicado.

Agradeço à Rosário Adragão que me forneceu a pista: Hans Christian Andersen

Aqui está a história:

Era uma vez um moleiro que tinha uma grande família. Eram muito pobres e viviam num velho moinho construído num vale sem vento. E, como todos sabemos, sem vento não se movem as velas do moinho que fazem rodar a mó que tritura o trigo.
Todos os seus vizinhos moleiros tinham os moinhos em lugares onde o vento soprava e iam enriquecendo sem nunca lhes faltar trabalho.
O moleiro vivia muito infeliz sempre à espera de uma brisa que empurrasse as velas, mas nada, nem uma aragem.
Uma noite, o pobre homem desesperado por não conseguir alimentar a família, pôs-se a caminhar e decidiu subir a um monte.
À medida que subia, a estrada ia-se tornando mais ziguezagueante e o vento soprava cada vez com mais força. Quando chegou ao topo do monte olhou em redor e exclamou:
_“Era de um vento destes que eu precisava lá em baixo! Que desgraça não ter construído aqui o meu moinho!”.

Assim que acabou de dizer estas palavras, o vento transformou-se num redemoinho.
_“É verdade… que boa ideia, porque não o faz agora? Com um moinho aqui neste sítio poderia trabalhar e os seus filhos não passariam fome” Disse uma voz atrás dele.
O moleiro estremeceu, virou-se e viu um desconhecido que sorria sentado num penhasco.
_“Conhece-me? Conhece a minha vida?”
_“Claro que conheço! E até quero colocar-me ao seu serviço como construtor de moinhos. Sei construí-los melhor e mais depressa que todos os outros”
_”Mas eu não tenho dinheiro…”
O desconhecido continuou a sorrir e disse
_”Não há problema. Dê-me a sua alma em penhor e durante doze anos terá sucesso em tudo o que fizer. Vai ser o mais rico e invejado dos moleiros”-
O moleiro sentiu-se inquieto mas também interessado:
_ “Mas que garantias tenho eu que dar?”
O desconhecido deu uma terrível gargalhada e disse
_”Escreva o seu nome neste papel. Antes que o galo cante a primeira vez, o moinho estará pronto. Um moinho que será capaz de girar dia e noite mesmo que não haja vento”
_”Isso é fantástico…” disse o moleiro já meio convencido, “mas eu não tenho dinheiro para comprar os cereais… e além disso como é que um moinho pode ser feito em apenas uma noite?”
_”Eu trato disso. Se o moinho não estiver pronto antes que os galos cantem, fica desfeito o nosso trato. E em relação ao dinheiro, tome lá esta bolsa!”
O moleiro sentia as pernas a tremer, mas a tentação foi mais forte e agarrou na bolsa cheia de moedas.
_”Agora não vamos perder mais tempo! Assine!”, gritou-lhe o desconhecido que agora já não sorria. Dava terríveis gargalhadas.
O moleiro continuava a tremer amedrontado, mas mesmo assim assinou o papel.
Nesse momento ouviu-se um silvo que ecoou pelas montanhas, a noite clareou, a montanha tremeu, fendeu-se e das profundezas da terra surgiu uma multidão de estranhas criaturas que num infernal vaivém transportava troncos de árvore, blocos de granito e num abrir e fechar de olhos construiu um moinho.
Só faltava colocar a mó que já estava preparada junto a um precipício.
Ao ver que a obra estava quase pronta e que o dia estava a nascer, o moleiro apercebeu-se do erro que tinha cometido ao fazer um trato com o Diabo e desesperado correu para a mó, tirou a cunha que a segurava, empurrou-a para o precipício e correu para junto da família.
O diabo e os seus ajudantes soltaram um enorme grito, tentaram apanhar a mó, mas foi tarde demais, porque entretanto rompeu a aurora e os galos cantaram libertando o moleiro do horrível pacto que tinha feito.

1 comentário:

  1. Bela história e uma parábola para o nosso tempo - obter o que se deseja rapidamente e sem trabalho é quase sempre vender a alma ao diabo.
    Beijinhos e parabéns pela história.

    ResponderEliminar