domingo, 15 de dezembro de 2013

Monstros antropomórficos

Manhã de sol e céu azul como só Lisboa tem. Não há vento, coisa rara por estes lados, a temperatura é de um fresco lavado e os plátanos largaram as folhas que enchem os passeios de tons que vão do amarelo ao ocre.

Nós vamos a caminho de uma torrada em pão de Mafra, de uma meia de leite e da leitura do jornal. Tranquilos e de coração leve.

Na nossa direcção vem mais um madrugador. Terá cerca de quarenta e muitos cinquenta anos e está vestido de fim-de-semana, classe média, normal. Como nós.

Pára à nossa frente, hesitante e embaraçado. E fala baixo, envergonhado, com os olhos a piscarem num esforço para não chorar.

Está desempregado. Não tem dinheiro e a mulher está em casa doente. Classe média, normal. Como nós.

Em Portugal há quase 900 mil desempregados. A cada desempregado estão ligadas pessoas. 900 mil dramas vezes quanto?

Fomos educados numa cultura judaico-cristã que nos transmitiu conceitos de pecado e castigo, de culpa, arrependimento e perdão. Eu aprendi a lição e por isso não perdoo a esta gente gananciosa que durante décadas, se serviu e teceu a rede de cumplicidades que atirou o país e as pessoas para o desespero.

Estas criaturas que de pessoas só têm a aparência física, arranjaram forma de escapar à Justiça dos homens, mas não escaparão à Justiça Divina nem à minha praga rogada com tanta raiva: desejo-lhes que ardam no inferno. Em vida e depois de mortas.
Afinal o dia está frio, sombrio e o chão coberto de folhas mortas e apodrecidas. Não devíamos ter saído de casa.

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