Em 1973, uma amiga que tinha vivido uns anos em Londres, decidiu voltar.
Passado pouco tempo pediu-me para ir com ela e com o futuro marido à Conservatória da cidade X para testemunhar que ela era solteira e não tinha deixado um marido pendurado em Inglaterra.
O namorado levou um amigo de infância e lá fomos os quatro.
Identificações apresentadas, o funcionário olha para o meu BI, olha para mim e pergunta:
- Onde está o seu marido?
-…? O meu marido? Está em Lisboa… mas o que tem o meu marido a ver com isto?
- Sem a presença do seu marido a senhora não pode testemunhar.
Eu sabia em que país vivia, mas senti um soco no peito
- O senhor já pediu a presença da mulher da outra testemunha?
- Para os homens não é necessário
Entre a fúria e uma profunda humilhação fui vociferando inúteis argumentos em defesa dos direitos das mulheres até que o funcionário encontrou uma solução para resolver o impasse.
Dirigiu-se a um homem que estava à espera de ser atendido e perguntou:
- O senhor não se importa de testemunhar que esta senhora nunca foi casada?
E o homem que nunca tinha visto a minha amiga, jurou por sua honra que ela era solteira.
Quis só refrescar a memória daqueles que a perderam e dos outros que aceitavam passivamente a canga e agora andam por aí a falar no “fatídico 25 de Abril” e “na censura que há desde há 3 décadas...”.
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