Com a monarquia seria diferente? Estaríamos melhor? Só se nós, Povo, fossemos diferentes e melhores.
Por isso tanto faz.
O texto que se segue é de Alberto Gonçalves
O que fizemos para merecer isto
Anda toda a gente a divertir-se com o discurso do eng. Sócrates na Universidade de Columbia, que corre na Internet e foi expelido num inglês que não é apenas mau, como o próprio primeiro- -ministro avisou no início da intervenção, mas nem chega a ser inglês.
De qualquer maneira, em vez de parodiarem a embalagem do discurso, as pessoas fariam melhor em atentar no seu conteúdo. Não que o conteúdo encerre sentidos profundos à espera de exegese. Pelo contrário: a retórica que sobreviveu à betoneira linguística do eng. Sócrates não tem sentido nenhum. E esse é que é o problema.
Falar pessimamente inglês (ou francês, ou alemão, ou húngaro) é o menos, embora custe insistir em fazê-lo perante uma audiência letrada. Grave é, ou pode ser, o que se diz, e o que o eng. Sócrates disse em Nova Iorque consistiu numa acumulação de banalidades e patranhas sobre energias renováveis digna de um sofrível vendedor de pechisbeques. Isto é, o tipo de lengalenga a que nos habituámos a ouvir-lhe em português e para o qual estamos, feliz ou infelizmente, anestesiados. Por acaso, em "inglês" as costuras da retórica do homem notam-se melhor. E as costuras do pensamento (digamos) também. O resultado agride.
Não sei a que estado precisou o País de chegar para que o seu Governo fosse liderado por semelhante exemplar. Há pior? Certamente, que ainda não chegámos às funduras do arlequim venezuelano, agora com fato de treino patriótico. Porém, já chegámos demasiado longe, e não vale a pena alimentar ilusões: apesar do apego ao poder que o eng. Sócrates revela, apesar do egocentrismo patológico, apesar das desesperadas manhas, apesar de tudo, ele está onde está porque assim o quisemos. Porque acreditámos nas mentiras e, pior, porque desejámos acreditar nelas.
Além de nos representar formalmente, o eng. Sócrates representa com vasta propriedade a essência do que hoje somos. E a vergonha que devemos sentir dele é, em primeiro lugar, a vergonha que devíamos sentir de nós, por muito que "nós" seja uma generalização abusiva: eu não ajudei a elegê-lo.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
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