terça-feira, 20 de outubro de 2009

Buçaco

O Palácio do Buçaco foi mandado construir pelo rei D. Carlos em plena mata, para servir como pavilhão de caça. Se isto se pode perceber, já não se percebe que numa área com mais de 100 hectares o palácio tenha sido construído precisamente ao lado do Convento dos Carmelitas e pior, tenha sido preciso destruir o refeitório, a biblioteca e a enfermaria para situar nesse local uma parte do Palácio. A tradição do desprezo pela cultura e património, pelos vistos, já vem de longe.

É uma pena que este Convento do século XVII tenha ficado amputado e o que resta esteja tão abandonado – vidros partidos, claustros cheios de ervas daninhas, nenhuma informação.
O que estará a fazer o Ministério da Cultura? E o Ministério da Agricultura e o Ministério do Ordenamento do Território? A mata tem uns trilhos muito agradáveis mas nenhuma indicação que evite que se perca quem lá vai a primeira vez. As árvores deviam ter placas que as identificassem, a Fonte Fria precisa de cuidados de manutenção, as capelas estão em ruínas, as Bulas Papais que estão nas Portas de Coimbra deviam ter uma legenda em português actual e, já agora, em francês e inglês. Neste país o turismo está todo virado para as praias… para a destruição das praias, quero dizer.

Vale a pena ficar no Hotel que é tranquilo e confortável.
No entanto sente-se alguma estranheza e perplexidade. É que em finais do século XIX o palácio foi construído em estilo manuelino… Estamos perante um arquitecto italiano profundo admirador do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém e com uma total ausência de criatividade. Quem aqui chega pode pensar que o Palácio data do século XVI.

O melhor: a gentileza com que somos tratados, a varanda, o serviço, o jantar, a garrafeira, os trilhos na mata.

O pior: o jardim do hotel, precisa urgentemente de uma boa equipa de jardinagem. É inadmissível que esteja tão descuidado.

E uma surpresa: Suzanne Chantal a autora de “ A Vida Quotidiana em Portugal no Tempo do Terramoto” foi durante muitos anos cliente do hotel, e na recepção está à venda “Buçaco” um livrinho em que ela com uma imensa ternura fala do hotel e das férias aí passadas.

3 comentários:

  1. Obrigada pelo "roteiro" e pelas críticas, sempre pertinentes. Quanto ao estilo manuelino, não´foi apenas um capricho do arquitecto, mas um "gosto" revivalista da 2ª metade do séc. XIX, visível em outros monumentos como a estação do Rossio e o Palácio da Pena.
    Beijinhos para os dois "viajantes"

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  2. Olá Zé, isto do gosto revivalista é também muito português... por mim preferia que fossemos mais criativos. Nesta altura já andava Monet a romper com a estética da época e a Arte Nova a fazer das suas.

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  3. Esse revivalismo não é só nosso. Viste a catedral de St. Patrick em NY - é do mesmo estilo, assim como muitos outros monumentos pelo mundo fora. Creio que esse movimento, que começou em Inglaterra, estará também ligado ao Romantismo e ao redescobrir das origens medievais.
    Bjs

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