Quero dizer... depois do primeiro minuto.
Um dia chegaram à cidade dois burlões que começaram a dizer a toda a gente que eram tecelões e faziam uns tecidos maravilhosos com cores e desenhos nunca antes vistos e com características especiais: os fatos feitos com estes tecidos eram invisíveis para as pessoas incompetentes e estúpidas.
Assim que a notícia chegou aos ouvidos do rei, ele pensou “Mas isto é fantástico! Ora aqui está uma oportunidade para eu saber quais os membros do meu Governo que são incompetentes e estúpidos. Vou já mandar fazer um fato com estes tecidos”.
Mandou chamar os dois homens e entregou-lhes uma grande quantidade de dinheiro para eles deitarem mãos à obra.
Os dois vigaristas mandaram montar um tear numa sala encomendaram fios de seda, ouro e prata e começaram a fingir que estavam a tecer. Entretanto iam guardando tudo numa arca e enchendo os bolsos com o dinheiro.
Os teares estavam vazios mas eles faziam grandes gestos como se estivessem a tecer uma bela e delicada obra.
O rei estava muito curioso, mas mandou um seu ministro verificar a obra.
O homem lá foi e… “Meus Deus… não vejo nada… será que sou estúpido?” pensou o ele. Os dois burlões ao verem o ar aflito do ministro, trocaram um olhar, aproximaram-se, apontaram para o tear e disseram “não é lindo este desenho? E as cores? Já viu que brilho… que tonalidades?” O ministro cada vez mais atrapalhado pensava “ninguém pode pensar que eu não vejo o tecido… será que sou um incompetente e vou ser despedido pelo rei?” e, em voz alta, toca de fazer grandes elogios “… que beleza… que delicado padrão… vou já informar o rei.”
Os tecelões pediram mais dinheiro e continuaram a fingir que trabalhavam.
O rei foi enviando os conselheiros e outras pessoas de confiança para verem o trabalho e acontecia sempre o mesmo. Cada um pensava que era estúpido ou incapaz e saía da sala a elogiar os belos tecidos que acabara de ver.
Finalmente o rei decidiu ir pessoalmente ver os tecidos. Fez-se acompanhar de uma grande comitiva e entrou na sala onde apenas havia um tear vazio e dois homens à sua volta fingindo que teciam, puxando invisíveis fios e cortando o ar com enormes tesouras. “Não é maravilhoso? Vossa majestade quer aproximar-se para ver a delicadeza destes desenhos?” disseram os conselheiros e o ministro. Cada um a pensar que os outros conseguiam ver…
O rei ficou em pânico “ mas…. mas o que é isto… então sou o único que não vê nada? Será que afinal sou estúpido e incompetente? Tenho que dizer alguma coisa…”
“Fantástico! Parabéns. Quero já um fato feito com estes tecidos e vou condecorá-los com a medalha de Tecelões Reais por serviços prestados à coroa”. Toda a gente que o acompanhava, sem querer dar parte fraca, começou a fazer coro elogiando as cores e os padrões.
Nessa noite os dois aldrabões continuaram com a sua farsa, dizendo que estavam a fazer o fato.
Até que… “O fato está pronto!”
O rei chegou, os tecelões foram apresentando as peças “leves como uma teias de aranha”.
O rei despiu-se, ficou em cuecas e vestiu a obra-de-arte. Vaidoso como era, mirou-se e remirou-se ao espelho, preparou-se para sair e participar na enorme procissão marcada para esse dia.
Começou o desfile por entre a multidão que abria alas para o rei e os nobres solenemente passarem.
E a cena repetiu-se. Toda a gente elogiava o fato e ninguém tinha coragem de confessar que não via nada… ninguém? De repente ouviu-se a voz de uma criança: “O rei vai nu!” E toda a gente começou a murmurar: “O rei vai nu… o rei vai nu”
Hans Christian Andersen nasceu a 2 de Abril de 1805.